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terça-feira, 17 de julho de 2012

História da Culinária com Maconha

Se cresceste nos Estados Unidos, podes-te surpreender ao saber que o uso da cannabis tem uma história bem longa e ilustre. Muitos ‘activistas anticannabis’ dos Estados Unidos poderiam fazer crer que o consumo da mesma é um vício limitado a hippies, caloteiros ou miúdos liberais da faculdade de artes; o que não sabem é que algumas das mais antigas culturas do mundo têm uma longa história quanto ao fumar e cozinhar marijuana.

 Cannabis na China Antiga

Muitos historiadores concordam que a primeira evidência cultural da Cannabis vem da China, há cerca de 6.500 anos atrás. Os Yang-Shao (a mais antiga cultura neolítica conhecida na China), colhiam sementes de cannabis para ser usado como grãos. As sementes eram moídas em farinha, assadas inteiras ou cozidas em papa. Os antigos túmulos da China tiveram mesmo vasos de sacrifício cheios de sementes de cânhamo para a vida futura.
Embora os antigos chineses não tenham incorporado directamente a cannabis em rituais espirituais, os efeitos das folhas da planta de resina e flores (ou botões) não passam despercebidos. A mais antiga farmacopeia do mundo conhecida, a ‘Pên-ts’ao Ching’, afirma que os topos floridos da marijuana, se tomadas em excesso ou durante um longo prazo “faz comunicar com os espíritos e ilumina o seu corpo.” O documento passa então a receitar marijuana para doenças como a “malária, constipação, dores reumáticas, distracção e distúrbios da mulher”.

Extracto Chinês de Óleo da semente da Cannabis e Óleo de Cannabis

Com as novas tecnologias desenvolvidas, os antigos chineses aprenderam a extrair o valioso óleo de cânhamo, usando uma técnica ainda utilizada no mundo ocidental no século XX. Estas sementes de cannabis pressionadas renderam quase 20 por cento de óleo por peso.
O óleo de cannabis tem uma série de utilizações, mas aqui estamos mais preocupados com suas aplicações na culinária. Após a extracção do óleo, o resíduo ou “bolo de cânhamo” ainda continha óleos nutritivos e proteínas, o que se tornou uma alimentação saudável para animais domesticados. Assim, os antigos chineses provavelmente foram os primeiros a descobrir, colher e cozinhar com a cannabis.

Cannabis na Índia Antiga

Cerca de 2.500 anos mais tarde, os Arianos errantes (uma tribo nómada Indo-Persa) trouxeram a Cannabis para a Índia, onde foi rapidamente adoptado tanto para as suas aplicações práticas (fibras de cânhamo e nutrição, por exemplo) como pela sua assistência em rituais religiosos (com os seus efeitos psicoactivos). Os índios anciãos adoravam os espíritos das plantas e dos animais, e a marijuana começou a desempenhar um papel activo nos seus rituais, bem como a tornar-se um objecto de adoração em si.
A marijuana tornou se sagrada, e o seu espírito, o chamado “bhangas spirit” era adorado e apelidado como “a liberdade do sofrimento e como um alívio para a ansiedade.” Os antigos indianos viam a planta como um presente dos deuses, saudando-a como uma erva mágica que “baixa a febre, promove o sono, alivia a diarreia, estimula o apetite, prolonga a vida, acelera a mente e melhora o julgamento.”

Índios anciães criam uma infusão de manteiga ‘Ghee’ de Cannabis e o ‘Bhang’

Tal como os chineses, os indianos antigos usavam as sementes como grãos para cozinhar, mas ao contrário dos seus antecessores, os índios também procuraram aproveitar o efeito farmacológico único da cannabis, cozinhando as flores, folhas e caules em manteiga ‘Ghee’ para ser usado numa infinidade de receitas.
Ghee, um ingrediente comum na comida indiana moderna, é uma deliciosa manteiga clarificada que pode ser armazenada por longos períodos de tempo sem refrigeração, desde que seja armazenada num recipiente hermético. A infusão de Cannabis ‘Ghee’ pode ser substituída, sendo chamada de ‘Ghee’ regular, no entanto não será cozida a temperaturas superiores a 401 graus Fahrenheit, altura em que o THC começa a perder a sua potência.
Além de Cannabis Ghee, antigos índios também misturavam Marijuana com outras especiarias (incluindo sementes de papoila, pimenta, gengibre, sementes de cominho, cravo, carda momo, canela, noz-moscada, açúcar e leite) numa bebida chamada “Bhang”. Hoje em dia, “Bhang” é apreciado na Índia – mais que o álcool e o vinho que são mais usados no Ocidente.

Cannabis atravessa a Europa

Eventualmente a Cannabis passou pelo Médio Oriente para países como a Babilónia, Palestina e Egipto, onde o cânhamo era utilizado em tecidos e, como grãos. Chegando á Grécia, pode ter sido referenciado no grande épico de Homero, a “Odisséia”. Os gregos e os romanos nao fizeram noticia das propriedades tóxicas da planta, mas usaram o cânhamo em fibras para fazer roupas e tapetes.

Cozinhar com Cannabis nos EUA

Com o aumento do comércio e das viagens, as sementes de Cannabis foram levadas para todas as partes do mundo conhecido. Quando os primeiros colonos vieram para as Américas, trouxeram cannabis com eles. Tanto quanto a história da culinária com cannabis nos Estados Unidos existe, o registo de tal é irregular, mas certamente renasceu na década de 60/70 com a forte influência indígena sobre a geração “hippie”.
Hoje, cozinhar com marijuana voltou em voga, especialmente com a descriminalização da cannabis em diversos estados (EUA) e as sempre presentes prescrições de maconha medicinal. Cozinhar com cannabis é uma óptima maneira de experimentar tanto os efeitos nutricionais da planta como os fisiológicos.

Felipe Freire