As três províncias que fazem limite com a Alemanha e a Bélgica (Brabante, Limburgo e Zeelandia) são as pioneiras em aplicar uma lei que se estenderá para o resto do país em 2013, um simbólico primeiro passo que cria as bases da muralha com a qual Holanda pretende proteger o consumo de maconha pelos estrangeiros.
Para isso, a lei obriga os coffeeshops a se transformarem em clubes privados com um máximo de 2.000 sócios, que deverão demonstrar que são residentes legais na Holanda.
"Temos cerca de mil visitantes por dia", declarou resignado à Efe um funcionário da loja Easygoing.
O maior temor causado pela nova lei é que empurre as droga para as ruas. "Não sei se afetará à economia, mas me preocupa que apareçam traficantes", afirmou um jovem garçom.
As máfias que controlam as vendas ilegais são "as únicas que ganham com a lei", opinou Marc Josemans, proprietário da Easygoing e presidente de um consórcio de coffeeshops, que critica a medida como "moralista e contraproducente".
A medida conhecida como "Lei do Ópio" legalizou em 1976 a venda de cannabis nos coffeeshops holandeses, de modo que controlava sua circulação e a separava das drogas pesadas, como a cocaína e a heroína.
"É um m... As pessoas vão continuar fumando e se não podem entrar aqui, irão para a rua. Mas os traficantes têm também outras coisas e não controlam a qualidade", garantiu taxativa Petra, funcionária da loja Maxcy's.
O prefeito da cidade de Maastricht, Onno Hoes, está decidido a aplicar a lei e anunciou por meio de um comunicado que "a prefeitura, a polícia e os fiscais estão preparados para a introdução da lei".
DISQUE-DENÚNCIA
Contra os traficantes, a prefeitura aposta suas fichas nas denúncias da população, para o que criou um telefone contra as drogas disponível 24 horas nos sete dias da semana ou através de um e-mail.
"Dizem que vão pôr a polícia nas ruas, mas não vai funcionar. Se pegam um, haverá outros dez", previu Yolande, uma holandesa que vive na Bélgica e viaja até Maastricht com seu namorado para comprar maconha.
Além do problema do tráfico ilegal, a lei também reviveu o temor dos consumidores de maconha de serem estigmatizados.
"Muitos dos meus clientes não querem registrar-se", explicou Josemans, que põe em dúvida que a lei assegure a privacidade dos dados, já que as autoridades terão acesso a eles.
RECURSO NEGADO
Na última sexta-feira (27), os coffeeshops sofreram um novo revés, ao ser rejeitado o recurso que tinham posto nos tribunais contra a aplicação de uma norma que consideram discriminatória.
Josemans decidiu opor-se à lei da única maneira que resta em suas mãos: quebrando-a, para iniciar um novo processo judicial.
A Easygoing permitirá a entrada de não residentes, com o que a prefeitura terá que fechá-la um mês e impor-lhe uma multa, decisão da qual Josemans recorrerá.
Além disso, o proprietário impedirá a entrada de um grupo de clientes holandeses por não querer registrar-se, para que o denunciem por discriminação.
Josemans não perde a esperança que, no futuro, os tribunais anulem a lei. "Mas, mesmo assim, o dano já estará feito", lamentou.
Fonte: Folha
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